História de Capitólio, Minas Gerais
- By Equipe Utopia
- 04 Jun, 2025

Capitólio, município localizado no sudoeste de Minas Gerais, tem sua história intimamente ligada às tradições do cerrado, às descobertas bandeirantes e à construção do Lago de Furnas. Ao longo dos séculos, o povoado que hoje abriga turistas de todo o Brasil passou por várias transformações, desde as vilas rurais pioneiras até se consolidar como um dos principais destinos de ecoturismo no país.
Origens indígenas e primeiros contatos
Antes da chegada dos portugueses, a região onde hoje se situa Capitólio era habitada por diversos grupos indígenas do tronco macro-jê, possivelmente os Carijós e os Botocudos. Esses povos viviam da caça, da pesca e da coleta de frutos nativos, aproveitando as águas límpidas dos rios e córregos que cortavam a Serra da Canastra.
Com a expansão das expedições bandeirantes no século XVIII, missionários e sertanistas passaram a reconhecer as potencialidades da região para a pecuária e a agricultura. Relatos de viajantes apontam que, já em meados de 1820, algumas pequenas fazendas haviam se estabelecido às margens do rio Turvo Grande, atual Rio Grande, iniciando o processo de fixação de colonos brancos naquelas terras.
“Eram veredas e capões de cerrado, margeados por cursos d’água que alimentavam as nascentes do Rio Grande. A cada passo, a paisagem revelava cânions e cachoeiras que impressionavam os olhos habituados ao planalto mineiro.”
— Viajante em 1828 sobre a região de Capitólio
Fundação e evolução do povoado
Ao longo do século XIX, famílias de fazendeiros atraídas pelas pastagens naturais ergueram pequenas capelas e construíram ranchos de taipa. A devoção a São Sebastião era marcante: em 1890, já funcionava uma capela rústica dedicada ao santo, ponto de encontro dos moradores dos arredores. Foi a partir dessa capela que se formou o primeiro núcleo habitacional mais organizado.
Em 1910, o povoado passou a chamar-se Capitólio, possivelmente em referência a uma serra local que teria o formato de um “capitólio” (edifício majestoso). A combinação do relevo acidentado com as escarpas de quartzito conferia ao lugar uma aparência única. Ainda assim, a região permanecia isolada: estradas de terra vinculavam-na a Vargem Bonita e a São João Batista do Glória, municípios vizinhos que serviam de pólo comercial.
A emancipação política só ocorreu em 30 de dezembro de 1953, por meio da lei estadual nº 1031, destacando-se da antiga Comarca de Guapé. A instalação oficial da prefeitura deu-se em fevereiro de 1954, quando Capitólio passou a dispor de administração própria e de divisão de distritos. A economia local baseava-se então na pecuária de corte e na agricultura de subsistência, destacando-se o cultivo de milho, feijão e mandioca.
A chegada do Lago de Furnas
Quando, em 1957, o governo federal começou a planejar a construção da represa de Furnas, a paisagem de Capitólio seria profundamente alterada. Inaugurada em 1963, a Usina Hidrelétrica de Furnas formou um dos maiores lagos artificiais do Brasil, cobrindo antigas fazendas e modificando rotas de estradas.
Embora algumas propriedades tenham sido alagadas — obrigando famílias locais a se mudarem para áreas mais altas —, a represa também tornou possível a exploração de novas atividades. A pesca esportiva, a navegação, o transporte aquaviário para localidades isoladas e, mais tarde, o turismo de lazer ganharam força a partir dos anos 1970.
Desenvolvimento econômico e turístico
Nas décadas de 1970 e 1980, empreendedores perceberam que as imponentes falésias esculpidas pelo Rio São Francisco e pelo Rio Turvo Grande, somadas às águas verdes-esmeralda do Lago de Furnas, formavam um cenário sem paralelo. Pequenos bares, pousadas e agências começaram a surgir em torno da Avenida Beira-Lago, então um simples caminho de terra batida.
Na década de 1990, com a pavimentação da rodovia MG-050 ligando Formiga a Passos, o acesso a Capitólio melhorou consideravelmente. Isso atraiu visitantes de Belo Horizonte, São Paulo e de outras capitais do Sudeste, posicionando a cidade como destino de fim de semana e feriados prolongados. O turismo passou a representar parcela significativa da economia local, incentivando a construção de hotéis, o oferecimento de esportes náuticos e a criação de roteiros para cachoeiras e mirantes.
Cultura e patrimônio
Além das belezas naturais, Capitólio carrega traços culturais herdados dos tropeiros e dos primeiros imigrantes portugueses. Ainda é possível encontrar oficinas de artesanato em barro, além de celebrações tradicionais como a Festa de Reis e a procissão de São Sebastião, mantidas por famílias que habitam a região há várias gerações.
O casario colonial, embora pequeno, revela traços de arquitetura rural mineira: casas simples de taipa de pilão e alpendres de cantaria, que remontam aos primórdios do século XX. Hoje, muitos desses imóveis antigos foram adaptados para abrigar pousadas e ateliês de artistas locais, garantindo a preservação da memória histórica.
Impactos ambientais e conservação
O crescimento turístico trouxe desafios ambientais. Nos anos 2000, houve preocupação com o assoreamento de cânions, o descarte de lixo nas margens do lago e o uso de medicamentos no lago que poderiam afetar a fauna aquática. Em resposta, associações de moradores, ONGs e a prefeitura criaram projetos de educação ambiental, mutirões de limpeza e trilhas sinalizadas para orientar visitantes.
Foi criada, em 2012, a Área de Proteção Ambiental (APA) da Bacia do Rio São Francisco, que inclui trechos de Capitólio. A APA visa conservar mananciais, proteger nascentes e regular o uso do solo em áreas de encostas, incentivando práticas de turismo sustentável.
Presente e perspectivas futuras
Hoje, Capitólio é referência em turismo de natureza: além dos famosos “Cânions de Furnas”, os visitantes encontram roteiros de cachoeiras (Cachoeira do Filó, Cachoeira do Patacão), mirantes panorâmicos (Mirante dos Cânions, Mirante do Morro do Chapéu) e esportes de aventura, como rapel e boia cross.
O município mantém programas de incentivo à gastronomia local, valorizando o “queijo da canastra” e pratos regionais à base de peixe de água doce. As festas folclóricas, as feiras agroecológicas e os eventos de música ao vivo reforçam a identidade cultural.
Para o futuro, a prefeitura investe em infraestrutura—ampliação de estradas vicinais, sinalização turística e melhorias em mirantes—com o objetivo de equilibrar crescimento econômico e preservação ambiental. Projetos de incentivo à produção artesanal e ao turismo rural também estão em desenvolvimento, buscando fortalecer a economia local para além dos roteiros náuticos.
Capitólio segue escrevendo sua história a cada nova geração de visitantes e moradores, oferecendo a quem chega não apenas belas paisagens, mas também um aprendizado sobre as transformações que moldaram esta terra única no coração de Minas Gerais.